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Comprar compulsivo ou Oneomania. Você sabe o que é?

Você já foi impelido(a) a comprar sapato e acessórios logo após adquirir uma roupa nova? Esse fenômeno é mais comum do que se imagina e é chamado de Efeito Diderot, em referência ao filósofo francês Denis Diderot (1713-1784), principal idealizador da Enciclopédia. Diderot contou que após adquirir um luxuoso Manto Escarlate, passou a achar que tudo que possuía não estava à altura do seu manto, por isso foi induzido a comprar, sem ter condições, outros bens igualmente requintados, assim, acabou se endividando.
O Efeito Diderot é uma das formas do consumismo, o chamado Transtorno do Comprar Compulsivo, ou Oneomania.

A etiologia da Oneomania é desconhecida, mas têm sido propostos mecanismos neurobiológicos centrados na desregulação da neurotransmissão serotonérgica, dopaminérgica ou opióide, e
mecanismos genéticos. Alguns pesquisadores sugerem que se trata de um “vício comportamental”, como são o jogo patológico, o vício em internet e o comportamento sexual compulsivo, envolvendo o “sistema de recompensa”, que abrange a parte frontal do cérebro e estruturas como corpo estriado ventral, o núcleo acumbente, a ínsula, o córtex cingulado e o orbitofrontal.
Essas regiões do cérebro envolvidas na sensação de prazer, quando acionadas, antecipam ou detectam uma recompensa, avaliam o valor dela e codificam se já foi atingida a saciedade ou não.

Segundo dados históricos, o comprar compulsivo é um comportamento que pode ter sido gerado após a Revolução Industrial, com produção em larga escala e incentivo pelo consumo em massa, a partir de altos investimentos em marketing e oferta de créditos, portanto, não seria um fenômeno contemporâneo. A diferença estaria nas redes de comunicação que se expandiram através da internet. O marketing digital que se prolifera velozmente através de algoritmos e o acesso fácil aos sites de venda são fatores que favorecem e estimulam muito a compulsão por compras. Nesse cenário, é possível que durante o isolamento social imposto pela pandemia da covid-19, tenha havido um aumento de comportamentos compulsivos para compensar a ansiedade, o medo e a depressão que se acentuaram nesse
período.

Os critérios diagnósticos para Oneomania são:
– Preocupação excessiva com compras ou impulso irresistível, intrusivo e sem sentido;
– Comprar mais do que pode, comprar itens desnecessários, ou por mais tempo que o pretendido;
– A preocupação com compras, os impulsos ou o ato de comprar causam sofrimento marcante, consomem tempo significativo e interferem no funcionamento social e ocupacional, ou resulta em problemas financeiros;
– As compras não ocorrem exclusivamente durante episódios de hipomania ou mania, do Transtorno Bipolar.

É importante distinguir compras normais das descontroladas ou compulsivas. Essa distinção não é feita com base na quantidade de dinheiro gasto ou no nível de renda, mas no nível de preocupação,
angústia pessoal e na extensão de conseqüências adversas. O gastos excessivos episódicos, como em viagens ou aniversários, por exemplo, por si só não se constituem em evidências para confirmar um diagnóstico de Transtorno de Compra Compulsiva.

Os pacientes oneomaníacos referem que muitas vezes compram em excesso para aliviar a angústia e o vazio interior, ou mesmo para compensar frustrações. Questões de autoimagem negativa e baixa autoestima também estão entre as hipóteses psicológicas para explicar o comprar compulsivo. Geralmente, as pessoas que sofrem de Oniomania, também apresentam transtornos de humor,
transtornos alimentares, transtornos de ansiedade, dependências e outros Transtornos de Controle do Impulso. Transtornos de personalidade também são comuns, com relatos de 50 a 60% em pacientes em tratamento.

E embora o consumo excessivo exerça enorme impacto no meio ambiente, na economia, devido aos altos níveis de inadimplência, e na saúde mental, pelos níveis de ansiedade, depressão, insônia e até suicídio dentre os oniomaníacos, esse transtorno ainda não consta dos códigos atuais de classificação de doenças mentais, exceto como Transtorno de Controle do Impulso sem outra especificação (TCI), o que explica a atual pobreza de dados científicos sobre o tema.

O tratamento atualmente envolve medicamentos que atuem nos circuitos cerebrais desregulados e terapia cognitiva comportamental. O momento de pedir ajuda é quando comprar passa a ser motivo de sofrimento e apreensão para si e para aqueles que estão a sua volta, quando a receita não cobre as despesas, quando os produtos adquiridos não cabem mais nos armários e passam a gerar aflição e arrependimento.

Existem algumas estratégias que podem ser empregadas no dia-a-dia, para evitar a compulsão por compras:

1) Antes de comprar, pergunte a si mesmo(o): eu posso? Eu preciso? Tenho onde guardar?;
2) Sempre questionar se a compra atende a um desejo próprio ou é para impressionar e agradar os
outros;
3) Experimente não comprar de 1a., não ande com cartão de crédito na bolsa. Procure repensar a
compra;
4) Lembre-se de que logo após a compra compulsiva, virá o arrependimento, a tristeza e o vazio novamente.
5) Não tenha vergonha de pedir ajuda de um psiquiatra e psicólogo, quando precisar;
6) Procure se informar sobre movimentos relacionados ao consumo consciente e ao lowsumerism.

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