O consumo recreativo digital por crianças e adolescentes é astronômico.Crianças Entre 2 e 8 anos, gastam quase 3 horas, entre 8 a 12 anos, gastam quase 5 horas e adolescentes entre 13 e 18 anos, perto de 7h por dia.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem recomendações sobre o tempo e a idade que as crianças devem ser expostas a telas, duas horas para crianças de 6 a 10 anos e de 3 horas para adolescentes, incluindo uso de videogames.
Alguns estudos americanos contestam possíveis benefícios do uso das mídias na infância e adolescência porque estariam prejudicando o desenvolvimento de habilidades fundamentais dessas fases, como aprender a pensar, refletir, manter a concentração, ampliar vocabulário ou interagir com outras pessoas, essenciais ao desenvolvimento cerebral e que não poderão ser recuperadas mais tarde.
Por exemplo, crianças de 2 anos dedicam cinquenta minutos, em média, por dia às telas, cerca de 800 mil palavras não ouvidas, no período de 24 meses.
As justificativas dos pais para permitir que os filhos fiquem tanto tempo nos dispositivos eletrônicos são:
- fazer com que as crianças fiquem tranquilas em locais públicos 65%,
- durante as compras 70%, ou
- enquanto cumprem tarefas domésticas 58%
O grande problema é que um computador não pode acompanhar, encorajar, estimular, tranquilizar, emocionar ou ser empático. Esses são elementos essenciais da transmissão de conhecimento e da vontade de aprender
Estudos experimentais demonstram que a criança aprende, compreende, utiliza e memoriza melhor as informações apresentadas quando estas são transmitidas por um humano, e não por um vídeo desse mesmo humano.
Portanto, para favorecer o desenvolvimento de uma criança, é melhor dedicar mais tempo às interações humanas, em especial às intrafamiliares, do que às telas.
Quando um dos pais ou uma criança se distrai com seu smartphone, não é possível conceder ao outro senão uma vaga atenção.
A simples presença do aparelho monopoliza suficientemente a atenção para alterar a qualidade da interação. Essa potência dispersiva explica em grande parte à notável capacidade dos smartphones de provocar densos conflitos qdo são manipulados dentro de casa. Ninguém gosta de sentir que é , aos olhos do próximo, menos importante e digno de atenção que um telefone celular.
As telas minam os 3 pilares mais essenciais do desenvolvimento infantil.
- As interações humanas
- Linguagem: alterando o volume e a qualidade das primeiras trocas verbais. Em seguida, impedindo a entrada no mundo da escrita. Certos conteúdos audiovisuais chamados educativos podem ensinar alguns elementos lexicais à criança, mas os ganhos registrados são infinitamente mais demorados, fragmentados e superficiais que aqueles oferecidos pela vida real.
- Concentração: o cérebro não foi concebido para enfrentar a densidade das demandas externas promovidas pelo ambiente digital. Submetido a um fluxo sensorial constante, ele sofre e se constrói mal.
Para finalizar, é bom lembrar que nada substitui o contato físico e verbal para o bom desenvolvimento infantil.
Albert Camus, escritor, filósofo, romancista e jornalista homenageou seu antigo professor, após ter recebido o prêmio Nobel de literatura: “Sem você, sem sua mão afetuosa estendida para a criança pobre que fui, sem seus ensinamentos, seu exemplo, nada disso teria acontecido.”
Os tempos são outros, mas nossa demanda por afeto e atenção é a mesma.
Fonte: A fábrica de cretinos digitais, Michel Desmurget.